A restauração da Mata Atlântica em grande escala é um processo que requer o conhecimento de dinâmicas agrícolas, pois a grande maioria das áreas disponíveis para a restauração é encontrada em terras de uso com agricultura e pastagem. Para se propor um método de restauração deste, é necessário acessar informações sobre a ecologia do lugar e das pessoas que vivem nele. 

Dentro deste contexto, a Universidade de Brown em parceria com o Instituto Floresta Viva reuniu uma equipe de cientistas ambientais e sociais do Brasil e dos Estados Unidos para levantar dados sobre os motivos e as formas de exploração de terras no território do litoral sul da Bahia.  O grande objetivo desta pesquisa foi o de descobrir como é possível restaurar  ricos ecossistemas enquanto se aumenta o bem-estar humano. Estas informações foram respondidas através de um mapeamento sobre quais áreas são mais adequadas para restauração, tanto social quanto ecologicamente, e quais incentivos seriam mais apropriados e bem sucedidos para melhorar o bem-estar humano e a regeneração da floresta. 

Seguindo esta premissa, o foco inicial da pesquisa esteve voltada para o  entendimento das estratégias desenvolvidas pelos produtores rurais, suas condições de trabalho e as vulnerabilidades associadas, nos 26 municípios do Território Litoral Sul da Bahia, dentro do bioma da Mata Atlântica. Para tanto, foram entrevistados 3 mil produtores, distribuídos aleatoriamente em 150 setores censitários. Em cada setor censitário foram entrevistados 20 produtores rurais escolhidos aleatoriamente, os quais formaram comunidades. A primeira ação foi a de documentar a gama de atividades produtivas fundamentais aos rendimentos familiares na região, como: alternância de cultivo, pecuária, produção de cacau, empregos não-agrícolas, bem como, diagnosticar as barreiras institucionais e outras, nas atividades agrícolas. A segunda ação esteve voltada à proposição de seis modelos de restauração florestal, com pagamentos mensais pelos serviços ecossistêmicos, que foram avaliados constantemente. A pesquisa teve duração de 5 anos, sendo que no primeiro ano foram aplicados 3 formulários por propriedade (um a cada 4 meses) e nos 4 anos subsequentes, um formulário por ano. O entendimento do uso do solo e das estratégias dos produtores rurais vem sendo fundamental para se traçar métodos de restauração diferenciados da Mata Atlântica. Combinar os resultados da pesquisa e o conhecimento técnico de atores experientes no tema com o notável conhecimento local do povo e do lugar no Sul da Bahia nos trouxe a confiança de que o desafio da restauração pode ser vencido.

Um importante resultado desta pesquisa foi a concretização e entrega, no ano de 2020, do relatório “Panorama do Cultivo do Cacau no Território do Litoral Sul da Bahia” (clique aqui para acessá-lo). O documento  foi desenvolvido pelo Instituto Floresta Viva, com o apoio da Cocoa Action Brasil, em resposta a uma demanda coletiva do setor cacaueiro brasileiro sobre dados e informações da cadeia do cacau.

O relatório fornece dados ricos relacionados a vários aspectos da produção de cacau e de seus produtores e contribui para uma visão geral do cultivo de cacau no Território do Litoral Sul da Bahia. Serve também como fonte de atualização para os diversos atores da cadeia de valor para monitoramento coletivo e desenvolvimento sustentável.

Podemos citar como outros desdobramentos desta pesquisa, a efetivação de algumas cooperações com órgãos do poder público de municípios envolvidos bem como cooperações científicas  para realização de pesquisas acadêmicas, como apresentados a seguir: